Onde eu nasci passa um rio...
São Francisco é o seu nome... e, sei que apesar de não ter nascido de nascimento por lá... foi lá, que aprendi a dar os primeiros passos... ainda bebê, perdi meu pai... e, sozinha com três filhos pequenos minha mãe, retornou às suas origens, levando-me no colo...
Foi lá por aquelas bandas que mirava o horizonte, e achava-o imenso... andava de carro de boi, comia da fruta, que tiravamos da árvore, com as as próprias mãos... ou com latinha amarrada no bambu.
Via minha mãe e tias cozinharem num enorme fogão.
Ficava num canto admirando-as, de longe, para não me queimar, e não atrapalhá-las...isso porque tinha uma magia o fogão.
Era apenas um fogão, bem sabia... mas ali aquelas mulheres, da minha família, bem como todas as outras, colocavam sua energia, para dali sair o néctar da vida-o pão nosso de cada dia... a força delas até hoje me impressiona, sua coragem e determinação, e principalmente a Fé...são expressões da real palavra "ser mulher"!
Elas, não precisavam se expor, ao ridículos das saias curtíssimas... não precisavam darem altas gargalhadas, para chamar a atenção, muito menos andar rebolando o traseiro....
Muito pelo contrário, tinham a sua arma mais forte, que era o seu olhar...os gestos, a elegância e sabedoria, mesmo as mais humildes , e de poucas letras.
Educavam seus filhos, e ensinavam-os a tomar a benção dos mais velhos...
Eram cortezes, sem precisar serem lembrados: na rua ajudavam aos mais velhos - os rapazes sabiam cortejar uma moça, e até faziam serenatas quando se apaixonavam.
Nas aldeias todos se conheciam, se ajudavam, as cidades eram limpas, por que o patrimônio comum era respeitado.
E, claro não haviam leis que puniam àqueles que jogavam lixo na rua! não era preciso, e já havia o sentimento de ecologia, ensinado e compreendido por todos.
Íamos às missas nos domingos, com as melhores vestes.
Sem querer ser saudosista até, por que não tenho tanta idade para isso, mas o pouco que desfrutei no interior me traz boas lembranças, de um tempo bonito... de uma vida pacata, sincera, calma e feliz!
Embora com muita simplicidade.
A quem quiser sentir um pouco desse clima: Vá ao Interior, dê-se esse presente singelo... Mostre aos filhos, e netos como viveram nossos avós, e fazê-los entender por que já se ouviu cantarolando: "tempo bom... não volta mais... saudades de outros tempos iguais"
Ilustrações:
Foto de uma celebração de Reis em Paratinga - Bahia, com o músico e Maestro senhor Lino Brandão.