quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Cora Coralina - "A vida é sempre boa. Saber viver é a grande sabedoria e nós todos temos a faculdade de fazê-la sempre melhor. Além da vida material que está a nossa volta, temos também a nossa vida interior, mais válida que a material. Depende de nós fazê-la melhor." - Cora Coralina, Especial Literatura, n.° 14, TVE, 29/1/1985.


   Há muito pensava em falar algo sobre Cora Coralina - um dia não mais que derepente, encontrei esse mimo de blog com sua trajetória, e me encantei... tipo de coisa que se acha sem procurar, e se apaixona... acompanhem comigo sua vida, e veja referências abaixo...Ótima leitura, e um bom encantamento!










"Eu sou aquela mulher
a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida
e não desistir da luta,
recomeçar na derrota,
renunciar a palavras
e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos
e ser otimista.
Creio na força imanente
que vai gerando a família humana,
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana,
na superação dos erros
e angústias do presente.
Aprendi que mais vale lutar
do que recolher tudo fácil.
Antes acreditar do que duvidar"
- Cora Coralina, in "Ofertas de Aninha", no livro Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha, 6ª ed. Global Editora (1996).

Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas, nasceu no estado de Goiás (Goiás Velho) em 1889. Filha de Jacinta Luíza do Couto Brandão Peixoto e do Desembargador Francisco de Paula Lins dos Guimarães. 




Cora Coralina era chamada Aninha da Ponte da Lapa. Tendo apenas instrução primária e sendo doceira de profissão.

Cora Coralina
Publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade. Ficou famosa principalmente quando suas obras chegaram até as mãos de Carlos Drummond de Andrade, quando ela tinha quase 90 anos de idade.

Cora Coralina não se filiou a nenhuma corrente literária. Com um estilo pessoal, foi poeta e uma grande contadora de histórias e coisas de sua terra. O cotidiano, os causos, a velha Goiás, as inquietações humanas são temas constantes em sua obra, considerada por vários autores um registro histórico-social do século XX.

Faleceu em 10 abril de 1985 em Goiânia.

“Quando escrevo, escrevo por um impulso interior que me vem do insondável que cada um de nós trás consigo. Mas uma coisa eu digo a você: ontem nós falamos nas pessoas que ainda estão voltadas para o passado. E eu digo a você: não há ninguém que não faça sua volta ao passado ao escrever. Nós todos fazemos. Nós todos pertencemos ao passado. Todos nós. Queira ou não queira. É de uma forma instintiva. Nós todos estamos ligados muito mais aos nossos avós do que aos nossos pais.”
- In: Cora Política Coralina, 1984.

CRONOLOGIA VIDA E OBRA DE CORA CORALINA
Cora Coralina, jovem.
1889 - Nasce Ana Lins do Guimarães Peixoto Bretas (Cora Coralina), na cidade de Goiás, em 20 de agosto. Filha de Jacinta Luíza do Couto Brandão Peixoto e do Desembargador Francisco de Paula Lins do Guimarães.
1900 Impedida de freqüentar regularmente a escola, descobre a literatura lendo os almanaques encontrados em sua casa e começa a escrever seus primeiros versos.
1905 - Passa a freqüentar os saraus literários realizados na residência de um advogado da cidade, em que, sem revelar o nome do autor, lê publicamente seus poemas.
1907 - Tem pela primeira vez seus poemas publicados no jornal O Paiz. Trabalha como redatora do jornal A Rosa.
1910 - Publica seus primeiros poemas no jornal O Paiz e pela primeira vez utilizapseudônimo Cora Coralina, que adota em toda sua carreira literária. Publica o seu primeiro conto "Tragédia na Roça" no Anuário Histórico Geográfico e Descritivo do Estado de Goiás .
1911 - Grávida, sai da cidade com Cantídio Tolentino de Figueiredo Brêtas, que havia sido designado delegado de polícia da Vila de Goiás nesse ano.
1912 - Instalam-se na cidade de Jaboticabal, interior de São Paulo.
1914 - Colabora no Jornal O Democrata, em que seu marido trabalha como redator. Em seus artigos faz reivindicações em favor dos pobres e idosos da cidade. Defende a criação da Escola de Agronomia de Jaboticabal.
1921 - Publica no jornal O Estado de S. Paulo o artigo "Idéias e Comemorações", elogiado pelo escritor Monteiro Lobato (1882 - 1948).
1923 - O casal adquire uma chácara onde a poeta passa a cultivar e comercializar flores. Colabora no jornal A Informação Goiana.
1925 - Viaja com o marido para São Paulo e oficializam o casamento. Em lua-de-mel, vão para o Rio de Janeiro.
Cora Coralina
1926 - Muda-se com a família para São Paulo.
1932 - Apóia a Revolução Constitucionalista e colabora no jornal O Estado de S. Paulo.
1934 - Morre seu marido e para sustentar a família abre uma pensão.
1936 - Conhece o editor José Olympio (1902 - 1990) e passa a vender os livros da sua editora.
1937 - Muda-se para Penápolis, São Paulo, onde abre uma casa de retalhos e colabora no jornal O Penapolense.
1940 - Instala-se em Andradina, São Paulo, e inaugura uma casa de tecidos. Adquire uma chácara na vila Alfredo de Castilho e se torna lavradora. Pouco tempo depois adquire dois novos sítios, no primeiro passa a produzir algodão e o segundo destina ao aluguel para o descanso das boiadas que, vindas de Mato Grosso, vão para o Matadouro de Araçatuba. Colabora no periódico O Jornal da Região.
1954 - Vende seus bens de São Paulo para seu filho e retorna para a vila de Goiás, onde produz doces.
1959 - Conhece o advogado Tarquínio de Oliveira, que a estimula a publicar seus poemas por uma editora paulista, então aprende datilografia e passa a limpo suas poesias.
1959 - Em companhia de Tarquínio de Oliveira encontra-se com o escritorAntônio Olavo Pereira (1913), irmão de José Olympio e administrador de sua editora em São Paulo.
1976 - É homenageada pelo Grêmio Lítero-Musical Carlos Gomes, sediado em Goiânia.
1979 - Recebe carta do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987) enaltecendo-a como uma das grandes poetas nacionais. Os dois poetas passam a se corresponder freqüentemente.
1980 - No Rio de Janeiro, é homenageada como uma das dez mulheres do ano nas letras nacionais. Drummond publica um artigo elogiando seus poemas no Caderno B do Jornal do Brasil.
1981 - Como tributo a seu trabalho literário recebe o Troféu Jaburu, doado pelo Conselho de Cultura do Estado de Goiás.
1982 - É reverenciada, em São Paulo, no 1º Festival Mulheres nas Artes. E participa do recital em sua homenagem promovido pela Fundação Ação Social do Palácio do Governo de Goiás.
Cora Coralina
1983 - Recebe o título de doutora honoris causa conferido pelaUniversidade Federal de Goiás. É homenageada pelo Senado, em solenidade promovida pela Fundação Pedroso Horta, pela Secretaria de Cultura do Governo de Goiás e pela Fundação Cultural. É agraciada com a Comenda da Ordem do Mérito do Trabalho, conferida pelo presidente da República, João Baptista Figueiredo (1919 - 1999), por seus méritos na promoção da cultura goiana.
1984 - Torna-se membro da Academia Goiana de LetrasRecebe o grande prêmio de crítica da Associação Paulista de Crítica de Arte - APCA e o Troféu Juca Pato da União Brasileira de Escritores - UBE reconhecida como Símbolo Brasileiro do Ano Internacional da Mulher Trabalhadora pela FAO.
1985 - Morre no dia 10 de abril, em Goiânia, e é enterrada na cidade de Goiás, onde é fundada a Casa de Cora Coralina, instituição que zela pela preservação de sua memória.

Cora Coralina, por Lezio Junior.
Assim eu vejo a vida
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

OBRAS PUBLICADAS DE CORA CORALINA - PRIMEIRAS EDIÇÕES



Poesia
CORALINA, Cora. Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1965.
_______ . Meu Livro de Cordel.Livraria e Editora Cultura Goiana, 1976, p. 93.
_______ . Vintém de Cobre: Meias Confissões de AninhaUFG Editora,1983, p. 195.
_______ . O tesouro da Casa Velha. [publicação póstuma]. São Paulo: Global, 1996.
_______ . Vila Boa de Goyáz. [publicação póstuma]. São Paulo: Global, 2001. 



"Entre pedras que me esmagavam levantei a pedra rude dos meus versos."
- Cora Coralina, in "Das pedras", Meu livro de cordel.


Casa Velha da Ponte
Conto
CORALINA, Cora. Estórias da Casa Velha da Ponte. São Paulo: Global, 1985.

Infantil e juvenil
CORALINA, Cora. Os Meninos Verdes. São Paulo: Global, 1986.
_______ . A Moeda de Ouro que um Pato Engoliu. [publicação póstuma]. São Paulo: Global, 1999.
_______ . O Prato Azul-Pombinho. [publicação póstuma]. São Paulo: Global, 2002.


Cora Coralina, Lezio Junior.

CORA CORALINA E A SEMANA DE 22

“Eu só me libertei da dificuldade poética depois do modernismo de 22, mas não acompanhei o movimento. Não sei como – não posso explicar como - me achei dentro daquela mudança. Em primeiro lugar, poesia para mim é comunicação; em segundo lugar é invenção, porque só o gênio cria. Hoje nós temos que achar a poesia na realidade da vida e a vida toda é poesia.
Porque onde há vida, há poesia. Poesia para mim é um ato visceral. É um impulso que vem de dentro e se eu não obedecê-lo me sinto angustiada. (...) Todo o poeta é meu preferido. Gosto dos poetas de 22. Mas para mim o fundamental é a poesia que busque inspiração na realidade. Não suporto os poetas do imaginário que fazem sua arte do caracol das palavras.”
- Cora Coralina, Revista Análise, 1984, p. 10-11.


A MÁQUINA DE ESCREVER
A velha máquina de escrever...

“Querida amiga D. Cora Coralina, (...) A máquina de escrever é sua por direito de conquista. Não agradeça, portanto. Comprei essa Hermes Baby há alguns anos na convicção de que me serviria a escrever poemas. Tempo consumido em escritos econômicos, negócios, administração. Vejo que ela tinha um destino certo. E o realiza agora. (...) Certamente, um dia, será célebre nas obras de Cora Coralina e com maior beleza e valor. Não me agradeça. A máquina queira um dono côo a senhora. Teria fugido de mim mais cedo ou mais tarde. (...) Ela já era sua. Perdoe que não a tenha encontrado mais cedo.”
- Tarquínio J. B. de Oliveira – escritor, S. Paulo, 15 julho 60.


“O grande livro que sempre me valeu e que aconselho aos jovens, um dicionário. Ele é o pai, é tio, é avô, é amigo e é um mestre. Ensina,, ajuda, corrigi, melhora, protege. Dá origem da gramática e o antigo das palavras. A pronúncia correta, a vulgar e a gíria. Incorporou ao vocabulário todos os galicismos, antes condenados. Absolveu o erro e ressalvou o uso. Assimilou a afirmação de um grande escritor: é o povo que faz a língua. Outro escritor: a língua é viva e móvel. Os gramáticos a querem estática, solene, rígida. Só o povo a faz renovada e corrente sem por isso escrever mal.”
- Cora Coralina, in "Voltei", Vintém de Cobre: meias confissões de Aninha - 6ª ed. Global Editora (1996).


"Minha querida amiga Cora Coralina: Seu "Vintém de Cobre" é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia ( ...)."

- Carlos Drummond de Andrade.

A caminhada ...
O chamado das Pedras
A estrada está deserta.
Vou caminhando sozinha.
Ninguém me espera no caminho.
Ninguém acende a luz.
A velha candeia de azeite
de lá muito se apagou.

Tudo deserto.
A longa caminhada.
A longa noite escura.
Ninguém me estende a mão.
E as mãos atiram pedras.
Sozinha...

Errada a estrada.
No frio, no escuro, no abandono.
Tateio em volta e procuro a luz.
Meus olhos estão fechados.
Meus olhos estão cegos.
Vêm do passado.

Num bramido de dor.
Num espasmo de agonia
Ouço um vagido de criança.
É meu filho que acaba de nascer.

Sozinha...
Na estrada deserta,
Sempre a procurar
o perdido tempo que ficou pra trás.

Do perdido tempo.
Do passado tempo
escuto a voz das pedras:

Volta...Volta...Volta...
E os morros abriam para mim
Imensos braços vegetais.

E os sinos das igrejas
Que ouvia na distância
Diziam: Vem... Vem... Vem...

E as rolinhas fogo-pagou
Das velhas cumeeiras:
Porque não voltou...
Porque não voltou...
E a água do rio que corria
Chamava...chamava...

Vestida de cabelos brancos
Voltei sozinha à velha casa deserta.
- Cora Coralina, Meu Livro de Cordel, 8°ed., 1998.




Mascarados
Saiu o Semeador a semear
Semeou o dia todo
e a noite o apanhou ainda
com as mãos cheias de sementes.
Ele semeava tranqüilo
sem pensar na colheita
porque muito tinha colhido
do que outros semearam.
Jovem, seja você esse semeador
Semeia com otimismo
Semeia com idealismo
as sementes vivas
da Paz e da Justiça. 


A poetisa e contista Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, a Cora Coralina,
entre os frequentadores do Gabinete Literário Goiano

“Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida,
removendo pedras e plantando flores.”


RECONHECIMENTO – HOMENAGENS, COMENDAS E PRÊMIOS.
1962 - Cidadã Andradinense – Andradina-SP.
1970 - Membro da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, Goiânia-GO.
1973 – Premio de Contribuição à cultura goiana – Literatura – UBE. Goiânia-GO.
1976 - Intelectual do Ano - Grêmio Litero Teatral Carlos Gomes, Goiânia-GO.
1977 - Membro da Arcádia Goiana de Cultura, Goiânia-GO.
1977 - Medalha Ana Néri – Sociedade Brasileira de Educação e Integração – São Paulo-SP.
1978 - Comenda do Mérito Anhanguera – Governo do Estado de Goiás, Goiânia-GO.
1978 - Medalha do Sesquicentenário da Fundação de Jaboticabal – Jaboticabal-SP.
1980 - Dez Mulheres do Ano, Conselho Nacional de Mulheres do Brasil, Rio de Janeiro-RJ.
1981 - Recebe o Troféu Jaburu, doado pelo Conselho de Cultura do Estado de Goiás, pelo seu trabalho literário.
____ . Medalha Veiga Valle, Organização Vilaboense de Artes e Tradições, Cidade de Goiás-GO.
____ . Expressão da Cultura, Academia Goiana de Letras e Fundação Projeto Rondon, Goiânia-GO.
1982 - Prêmio Fernando Chinaglia – UBE – Rio de Janeiro.
____ . Sócio Honorário da Casa do Poeta Brasileiro, Santos-SP.
____ . Medalha Tiradentes, Governo do Estado de Goiás, Goiânia-GO.
____ . Medalha Antônio Joaquim de Moura Andrade, Câmara Municipal de Andradina, Andradina-SP e Serviço Social do Comércio, São Paulo-SP.
1983 - Recebe o título de doutora honoris causa, conferido pela Universidade Federal de Goiás.
____ . Mulher do Ano, Grêmio Litero Teatral Carlos Gomes, Goiânia-GO.
____ . É agraciada com a Comenda da Ordem do Mérito do Trabalho, conferida pelo presidente da República, João Baptista Figueiredo (1919 - 1999), por seus méritos na promoção da cultura goiana.
1984 - Recebe o Troféu Juca Pato, da União Brasileira de Escritores (UBE) e Folha de São Paulo, São Paulo.
____ . É reconhecida como Símbolo Brasileiro do Ano Internacional da Mulher Trabalhadora pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).
____ . Cidadã Jaboticabalense, Jaboticabal-SP.
____ . Cidadã Goianiense, Goiânia-GO.
____ . Grande Prêmio da Crítica – Associação Paulista de Críticos de Arte, São Paulo-SP.
____ . Membro da Academia Goiana de Letras, Goiânia-GO.
1985 - Personalidade do Ano - Literatura, Rotary Club de São Paulo, São Paulo-SP.

"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina."





Referência:


Veja a trajetória na íntegra dessa grande senhora...das artes...das letras ...das poesias e crônicas, também da enxada... da casa velha ...do Goyas... de sua gente e de toda a gente...


http://www.elfikurten.com.br/2011/12/cora-coralina-venho-do-seculo-passado-e.html

beijinhosss....

Um comentário:

  1. Não posso nem pensar em definir esta dama, uma senhora sensacional, uma poetisa uma escritora...
    Beijos!!

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Até a próxima postagem! ABRAÇOS FRATERNOS ...

A vida segue seu fluxo ... Nada muda sem que você não permita!

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